quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Tardes de julho

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Sentara-se na cama como se estivesse esperando a recompensa por ter ido até o local e então ele a abraçou. Nada sentiu pela intimidade que sempre tivera com ele, afinal o conhecia desde que ela era menor do que o atual, mas de fato percebeu um abraço mais apertado e carinhoso. Será que ele tá com problema ou querendo conversar? Mas o que eu posso fazer? Queria poder ajudá-lo. Em meio ao abraço ela percebe pela primeira vez as mãos fortes de um homem percorrerem seu corpo. Ele não é um homem, é meu primo! Ela deu um passo atrás, mas não conseguiu dizer nenhuma palavra, estava assustada demais para isso. Ele me sorriu e perguntou se eu não queria ver desenho animado no quarto dele, então eu fui. Ele ligou a televisão, colocou no primeiro canal que encontrara e estava passando um desses desenhos que as crianças assistem repetidamente. Ele deitou na cama e a chamou para seu lado. Tímida, ela apenas sentara na beirada da cama e divertia com as personagens da animação enquanto ele imaginava outra forma de diversão. Ele a desejara desde o primeiro instante em que a viu depois de muito tempo. Afinal sua pequena estava quase uma mulher, só não agia como tal. Mulher? Ainda era uma criança! E como toda criança, ingênua demais. Com os mesmos braços fortes ele a deitou na cama para ficar à vontade e deitada, ela quase pegara no sono. Ele aumentou o volume da TV. Ele está respirando perto do meu pescoço? Que engraçado, isso faz cosquinha! Então ele colocou o peso de uma de suas pernas sobre ela. Se sentindo incomodada e achando que era uma brincadeira do seu primo, Thayla se vira para pedir que ele parasse com aquilo. Aproveitando o momento oportuno, com os dois ainda deitados, ele a beijou. Eu me assustei, mas confesso que gostei. Gostei? Não sei! Eu... eu... não sei o que era aquilo, não sei o que... Ficaram um tempo em silêncio. As mãos dele começaram a percorrer descontroladamente pelo corpo da garota e então, intempestivamente, ele montou nela, travando-a. Meu coração começou a acelerar, não sabia o que ele estava fazendo. Ele pressionava o corpo contra o dela e tampava sua boca enquanto arrancava sua roupa e via a garota se debatendo, inutilmente. O que estava até então agradável termina no ato que mudará a vida de Thayla completamente. Ela, ainda deitada na cama, tremendo. Ele, vestindo as calças. "E aí, foi bom pra você?"

- E era assim todas as tardes...

domingo, 4 de outubro de 2009

Redenção

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Ele está sentado naquela poltrona há mais ou menos três horas, inerte. Pernas largadas, quase deitado, seu corpo está tão relaxado que não ousara sequer se mover. Há três horas Ricardo olha para uma faca na mesa, puramente seduzido pelo brilho da lâmina. Eles estão em uma conversa silenciosa há horas, onde somente um lado fala.

“Venha Ricardo, deixe-me provar do teu sangue impuro. Farei com que todas as suas dores desapareçam. Prometo que você irá se sentir bem”. 

Ele anda perturbado com as vozes, não sabe o que fazer para calá-las e não sabe como suplantar essa dor. Por vezes outras lâminas sentiram o sabor da sua pele, um prazer incrível, porém momentâneo. As maiores cicatrizes se escondem no porão da sua alma, que no momento parece ter abandonado aquele corpo. Todos já desistiram, inclusive ela, então por que ele também não pode desistir? Sim, é inútil, nada há para ser salvo, nada há para ser lembrado.

Esse é um momento único, somente ele, a poltrona e a faca – quatro horas – quanto tempo passou? A dúvida ainda paira em sua cabeça repleta de pensamentos lá não muito ortodoxos. Será que a solução para todo o sofrimento é pular fora da ponte da vida? Quisera ele que seu espírito pudesse descansar em paz, mas os fantasmas que um dia aparentemente se afastaram ainda lhe perturbam as ideias. Cada fibra do seu ser exprime um som quase gutural, essa dor constante corrói a sua carne deixando marcas por todo o seu rosto e pulsos.

No chão algumas caixas jogadas, remédios usados antes para aliviar a sua dor de sentir, mas que agora não fazem nenhum efeito. Ricardo parece ter entrado num mundo paralelo de dor e sombras, onde nada mais importa além de livrar-se do sofrimento. Eis que pelas asas do mensageiro dos ventos vem a sua redenção, tão linda que chega a ofuscar-lhe a visão, pousando levemente sobre o seu colo. Seus membros estão dormentes mas ainda assim consegue forças para alcançar a paz derradeira. Deixou para trás apenas um rastro de sangue e lágrimas.

domingo, 27 de setembro de 2009

Você

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Um dia você percebe que os muros que você mesmo construiu ao seu redor desmoronaram. Todas as suas defesas foram por água abaixo e você se encontra assim, desprotegido. Um dia você percebe que os pilares sólidos do seu castelo na verdade são feitos de areia, e que de uma hora pra outra tudo pode cair por terra. Um dia você acorda e não se reconhece no espelho, acha-se estranho, amorfo, sem vida. Um dia você percebe que, assim do nada, alguém levou sua alma, mas aí já é tarde demais. Você não é tão forte quanto pensava. Você nunca mais será o que um dia fostes. Você não é ninguém.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Música pra ouvir no celular

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Dia desses estava com algumas amigas conversando sobre trivialidades quando uma delas pegou meu celular pra fazer uma ligação e, logo após começou a mexer nele.

- Tem música?
- Algumas, só não sei se você vai gostar.
- Deixa eu ver então.

Continuamos o papo de forma quando, de repente, minha amiga grita:

- Você ainda ouve Legião Urbana?!?!?

(Pra entender a surpresa dela é preciso de uma informação importante: eu sou fã da Legião Urbana desde que me entendo por gente - a única criança da minha sala que cantarolava "Será" na hora do recreio - desculpa, sempre tive bom gosto.)

- Ué, qual a surpresa?
- Eu não te vejo tem uns 10 anos e você ainda ouve a mesma coisa? Não enjoa?

(Era um reencontro de veeeeelhos amigos de escola.)

- Eu canso é de ouvir as bandas de hoje, sem conteúdo, com uma melodia grudenta e que ainda fazem prancha no cabelo!
- Caraca, mas tem quase 10 anos!
- Pra ver como algumas coisas não mudam nunca.

Em meio ao inconformismo da minha amiga, uma outra se juntou à conversa.

- Sabe qual era o diferencial deles? Eles tinham letra. Não é só uma música pra dançar, é música pra pensar também. Se o Renato estivesse vivo, faria mais sucesso do que todas essas bandinhas juntas.
- Ah, pra mim é música velha!

(Nesse momento esqueci a amizade e tive vontade de matá-la, juro, mas consegui me conter.)

- Música velha? Tá doida? São clássicos atemporais que, mesmo tendo sido escritos sei lá quando, ainda se enquadram na nossa realidade.
- Tá bom, tá bom, desculpa, é que isso também não é música pra carregar no celular.
- E o que que eu tenho que colocar no celular pra ouvir?
- Sei lá, alguma coisa mais animada.
- Desculpa, na próxima eu coloco o cd do Mc Créu.


Depois dessa breve discussão sobre meu gosto musical e que música deve entrar no repertório de um celular eu fiquei pensando no que minha amiga intrujona disse: "Imagina se o Renato estivesse vivo?". Eu adoro rock nacional, sou suspeitíssima pra falar. Capital Inicial, Titãs, Barão Vermelho, Paralamas do Sucesso... mas a minha preferência sempre foi Legião. Por quê? Sei lá, mas quando ouço aquela voz cantando "Há tempos que os jovens adoecem, e há tempos que o encanto está ausente, e há ferrugem nos sorrisos...", me dá um frio na espinha. É uma identificação muito forte e uma adequação com a realidade quase absurda. Quem ao ouvir o refrão de "Que país é esse?" não tem o súbito impulso de gritar "É porra do Brasil!"? Ou quem não se sente um imbecil pela própria passividade quando ouve "Perfeição"? É inegável, Renato tinha (e ainda tem) o poder de despertar sentimentos quaisquer que sejam. Da alegria extrema à profunda melancolia. Amor, revolta, ódio, compaixão, inconformismo... os melhores e os piores sentimentos são incutidos em nossa alma através de canções singulares. Ouvir Legião é um momento de catarse, como se fosse possível expurgar os próprios pecados, conseguir alívio pra alma e alcançar a redenção. É por isso e por outros motivos que Urban Legio Omnia Vincit!!



Um momento

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Algumas vezes a gente é tentado a esperar o momento certo.

- Quero esperar mais um pouco pra arrumar um emprego melhor.
- Vou esperar até minha vida se ajeitar.
- Espera a poeira baixar que é melhor.

Esperar, aguardar... e se nada disso chegar a acontecer? E se no meio do caminho os planos mudarem? Algumas pessoas esperam o futuro pra viver o presente, mas e se o futuro não vier? Ou se ele vier de outra forma que não é aquela que esperávamos? E se um meteoro cair na Terra e o mundo acabar?

A incerteza que ronda o futuro não deve pairar em nosso presente. O presente é agora, é um instante, uma lágrima, um beijo ou um adeus. O presente é real, palpável e tangível, ele é um momento que antes, que percebamos, vira passado. Pode ser uma lembrança sensacional ou nos trazer o gosto amargo de fel aos lábios. Está em suas mãos. O presente é um momento, pode ser mágico ou trágico, a maneira como o encaramos é o que determina tudo.


segunda-feira, 15 de junho de 2009

(RE) descobrindo

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Depois de um período sabático e até meio introspectivo, resolvi retornar ao vasto mundo das palavras. Precisava de um tempo, mas não qualquer tempo. Reflexão exige cuidado, paciência e disposição. Se descobrir dá trabalho, além do imaginado, pode acreditar.

Estava em uma fase estranha, nada fazia muito sentido e quando algo não tem significado não há motivo para fazê-lo. E aí é hora de REcomeçar e se REdescobrir (trocadilhos à parte). Depois de anos, empunhar novamente a pena e encarar a folha em branco chega a ser assustador (entrei em pânico!). É doloroso o processo, queima, machuca. É como se tirassem algo da gente, algo que incomoda, que simplesmente "tá sobrando" e deseja ardentemente sair e "conhecer o mundo". É praticamente um parto. Literalmente. Mas quando "nasce" é incrivelmente mágico, uma sensação de alívio nos toma mas, depois do primeiro vem também a sensação de insatisfação e daí, as ideias pulam como milho em uma panela quente.

Como o hábito da escrita também tem que ser exercitado, estou aqui pra dar início a mais essa nova etapa. Sempre gostei de trabalhar e desenvolver ideias. Acho fascinante o "trabalho mental", o exercício da argumentação, da dialética e da exposição de ideias. Bem, limites pré-estabelecidos, vamos aos desafios! E haja folha em branco pra colocar pra fora tantas ideias guardadas por tanto tempo.

Deseje-me boa sorte!

quinta-feira, 12 de março de 2009

Óculos

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"Por que você não olha pra mim?
Me diz o que é que eu tenho de mal.
Por que você não olha pra mim?
Atrás dessa lente tem um cara legal..."

Óculos - Os Paralamas do Sucesso

Se você soubesse a falta que faz...

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Dúvida

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Será que isso vai dar certo? Eu amo pó e você erva.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

(RE) início

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Toda mudança causa receio. Eu mudei de escola umas 10 vezes em toda minha vida acadêmica, mas ainda me lembro da primeira. A sensação de se entrar em um lugar e todos os olhares voltarem-se pra você pode até parecer atraente para alguns, mas não é nem um pouco legal quando se tem 6 anos. Enfim, os anos passaram, alguns olhares continuam me perseguindo, mas a necessidade de mudança permanece. Eu queria voltar a escrever, queria muito mesmo, mas como sempre senti medo. De quê? Sei lá, de parecer fútil, de não ter assunto, de descobrir que acabei me perdendo em minha própria essência, medo do nada, vai entender. Várias vezes parei, peguei uma folha, uma caneta e do nada, começava a escrever. Daí vinha um monte de coisa, tantas que eu sequer conseguia separá-las e informação demais cansa. Percebi que tinha muitos sentimentos presos e que não poderia libertá-los assim, de uma vez só, então resolvi começar do início.


Início. Percebi que Newton estava certo. "Um corpo tende a permanecer em repouso se nenhuma força agir sobre ele." (ou algo do tipo, sempre fui péssima em física... rs). A tendência a estagnação é inerente ao ser humano. Se pararmos pra pensar é cômodo e muuuuiito confortável agirmos e pensarmos da mesma forma sempre. Muito cômodo, porém cansativo e tédio mental é uma coisa da qual não me permito! Hoje eu decidi voltar, não somente a minha vida dupla de pessoa "normal" de dia e projeto de escritora nas horas vagas. Decidi voltar ao que me faz bem. Isso inclui atender 50 clientes perturbados querendo sua conexão funcionando? Bem, se isso está me ajudando tanto quanto acho que está, inclui sim. O retorno não está preso ao vasto universo literário, afinal sou bem mais do que algumas linhas. É o retorno das minhas origens, aos meus sentimentos mais escusos, aos desejos reprimidos, aos sonhos abafados. Retorno à vida de universitária, ao desejo de matar aula, de mudar o mundo (eu ainda quero mudar o mundo!) e de, sei lá, do nada, tentar fazer a diferença. Retorno ao meu verdadeiro espírito e finalmente retirar esse sorriso amarelo dos lábios e trocá-lo por aquele largo e despretensioso. Se eu vou conseguir? Sei lá, quem há de saber, mas a jornada é longa demais pra nos preocuparmos com o destino, apenas curta o caminho!



Err, do que que eu tava falando mesmo? Ah sim, a mudança! A mudança que faz você ter um novo início passando por um meio sem se preocupar com um fim. Isso fez sentido pra alguém? Nem pra mim! Whatever, eu estou de volta!