domingo, 31 de outubro de 2010

Alguns sonhos

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Eu tenho um sonho
e dele se alimenta
com migalhas a minha realidade
com sabor de ilusão,
que ata meus olhos
sem me deixar ver a cor do teu beijo.

Eu tenho um sonho perpétuo
que mais parece prece
em forma de canção,
e acorrentado a esses grilhões
meu coração ainda clama por emoção.

Eu tenho um sonho etéreo
e medo tenho dele se desfazer
esfarelado, escorrendo entre meus dedos.
Será que irá retornar ao pó de onde
um dia atrevi-me a resgatar-lhe?

Eu tenho um sonho eterno
e do mais presente, a ausência

apenas alimenta páginas em branco
com restos de lirismo
mal posicionados.

Sei que nada há
de fazer sentido,
antes eu estivesse dormindo.
Apenas sei que tenho um sonho
- e estou acordado.
É contigo!

sábado, 30 de outubro de 2010

Hope

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Continua vivendo
de tolas fantasias.
Continua a imaginar
seu sonho, fiel realidade.

Continua se iludindo
pobre criança,
tentando transformar
tanta esperança, em verdade.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Vinte e seis de outubro

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Nunca gostei de fazer aniversário e sempre reclamei um pouco disso. Ninguém nunca entendeu, afinal como pode alguém não gostar do próprio aniversário? É, eu não gosto. Com 23, o problema não é o transcorrer dos anos e nem o que fica pra trás com isso. O problema é tudo aquilo que se espera e nunca vem. É o grito mudo que fica entalado na garganta. É esperar exaustivamente pelo que nem se tem mais esperanças.

Sabe, o problema não é o que fica, isso é necessário, eu sei. O problema é tudo o que chega e não sabemos como lidar. Tudo o que chega e as pessoas que chegam. Tenho medo de não saber acolher as pessoas como elas merecem e acabar afastando-as.
Fora isso sabe o que pega? Ninguém nos ensina como é crescer. Não tem cartilha, tutorial ou professor. Ninguém nos diz quando temos que crescer (ou como crescer). Já me falaram que era difícil mas nunca se consegue mensurar de fato. Difícil é pra todos e tenho a impressão de que ninguém na verdade sabe lidar com isso. Crescer dói.

Além disso, além dos anos, das dúvidas, do que fica pra trás e aquilo que chega, nada seria um problema se o grande medo não fosse um só: o de se perder. Porque nessa passagem do tempo, por cada volta que os anos dão, por cada dia que me obriga a crescer mais rápido e de forma assustadora, o que amedronta é a possibilidade de, em alguma curva dessa estrada, eu acabar me perdendo. O medo maior de perder a fé e a inocência que ainda insistem em habitar meu coração, medo de perder esse sorriso bobo acompanhado de um jeito quase infantil. Medo de, por ter que crescer rápido, acabar me tornando alguém que eu não quero ser. Medo de me descobrir uma fraude e, pior, como conseqüência disso, não conseguir mais passar pro papel o que eu sinto. Seria como morrer afogada em minhas próprias palavras. 

Hoje, agora com 23, ainda tenho tudo isso, só não sei até quando. E não sei qual desses “26 de outubro” que ainda estão por vir irá me tirar isso, nem sei se esse medo todo é fundamentado, apenas queria compartilhá-lo, afinal as pessoas também fazer aniversário nos dias 27, 28, 29, 30... e medo todo mundo tem.

E assim, meio sem pretensão alguma termino esse texto, um diálogo torto entre eu e mim. E se alguém chegou até aqui, deixo meu agradecimento à vocês. E até o ano que vem!

“Vivernão é? — é muito perigoso. Porque ainda não se sabe. Porque aprender-a-viver é que é o viver mesmo.”  - Guimarães Rosa

terça-feira, 12 de outubro de 2010

O salto (pt. 2)

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Quis buscar a infinitude dos céus e a plenitude do mar. Saltava rochedos e quebrava grilhões. Tocara a infinitude do ser e todo o esplendor da angústia do sentir. Descobriu na dor o seu maior prazer e no delírio, seu maior alimento. Lutava contra monstros que rangiam dentro da sua cabeça, se guiava pela luz das trevas e pelo som mudo. Calado era e assim estava, já não cabia mais, não se encaixava no existir. Era uma escolha pela vida ou uma opção pela morte.

O salto (pt. 1)

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De frente pro abismo, de costas pro medo, ele ouvia o silêncio e gritava o que é surdo. Caminhava por ruas quebradas construídas por cacos de sonhos que ele um dia se atreveu a ter. Caminhos desconhecidos conduziam-no para suas buscas irreais. Ele sangrava ódio e transpirava rancor. Não tinha mais sonhos, não acreditava, não sentia, ele apenas tinha - por ter, ele não era e por não ser, ele se atrevia a dar as costas. Dor, suor, abismo. Uma vida em apenas um salto.