quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Construção

0 ficaram (des) consertados
Tô me reconstruindo, me remoldando. Tô catando cada pedacinho de mim e juntando pra fazer o meu inteiro, recolhendo cada caco de sonho estilhaçado e fazendo um mosaico de esperança e luz, cor e som, onde tudo pode ser do jeito que eu quiser, como eu quiser.

Cansei de varrer pra debaixo do tapete todos aqueles problemas intermináveis. Acordei numa manhã de domingo e o médico ordenou:

“Pare de varrer tudo para debaixo do tapete! Isso faz mal, não é saudável. Junta tudo e joga ao vento teus problemas, depois disso toma vitamina C e decerto há de passar”.

Tô juntando cada gota de chuva e construindo meu mar, assim, de mansinho. Não quero o que eu era, aquilo também não era inteiro. Quero me moldar entre pedaços de estrelas, estilhaços de desejos e um punhado de esperanças. Tô me reformando, tô subindo as paredes do meu castelo novamente e dando nova cara aos cômodos. Agora ele não terá muros, terá grandes e espaçosas pontes. Não quero mais separar, quero unir. Cansei de dividir lágrimas, quero multiplicar gargalhadas daquelas de doer a barriga.

As unhas, antes longas e vermelhas, agora por um bom tempo ficarão curtas e cruas. Essa cara que já não é minha vou levando até voltar a ser eu (será que algum dia já fui eu?). Meus pés que ainda vacilam porque ainda não sabem para onde devem ir, agora passam um tempo descalços ao sabor da terra. 

Ando escolhendo outras músicas, outros gostos e dos gostos pela vida. Tenho mudado palavras de melancolia por frases de amor porque, no final, o amor é a única coisa que importa, nem que seja por si mesmo. Tenho trocado de bocas e de corpos porque ainda não sei em quem me encaixo, daí vou me colando, espremendo e juntando até encontrar e ouvir o click. Tenho querido outras coisas, outras pessoas, outras vidas e das vidas quero extrair mais vida e propagar a vida até que a minha própria se finde.

Quero o amor, quero o mar, o além mar, mas tô só me reconstruindo, devagarzinho, assim, sem pressa. E um dia, um dia eu voltarei a ser eu, em virtude e plenitude, sem limitação. Mas por enquanto, por enquanto ainda é um tijolo de cada vez.