quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Vinte e seis de outubro

0 ficaram (des) consertados

Nunca gostei de fazer aniversário e sempre reclamei um pouco disso. Ninguém nunca entendeu, afinal como pode alguém não gostar do próprio aniversário? É, eu não gosto. Com 23, o problema não é o transcorrer dos anos e nem o que fica pra trás com isso. O problema é tudo aquilo que se espera e nunca vem. É o grito mudo que fica entalado na garganta. É esperar exaustivamente pelo que nem se tem mais esperanças.

Sabe, o problema não é o que fica, isso é necessário, eu sei. O problema é tudo o que chega e não sabemos como lidar. Tudo o que chega e as pessoas que chegam. Tenho medo de não saber acolher as pessoas como elas merecem e acabar afastando-as.
Fora isso sabe o que pega? Ninguém nos ensina como é crescer. Não tem cartilha, tutorial ou professor. Ninguém nos diz quando temos que crescer (ou como crescer). Já me falaram que era difícil mas nunca se consegue mensurar de fato. Difícil é pra todos e tenho a impressão de que ninguém na verdade sabe lidar com isso. Crescer dói.

Além disso, além dos anos, das dúvidas, do que fica pra trás e aquilo que chega, nada seria um problema se o grande medo não fosse um só: o de se perder. Porque nessa passagem do tempo, por cada volta que os anos dão, por cada dia que me obriga a crescer mais rápido e de forma assustadora, o que amedronta é a possibilidade de, em alguma curva dessa estrada, eu acabar me perdendo. O medo maior de perder a fé e a inocência que ainda insistem em habitar meu coração, medo de perder esse sorriso bobo acompanhado de um jeito quase infantil. Medo de, por ter que crescer rápido, acabar me tornando alguém que eu não quero ser. Medo de me descobrir uma fraude e, pior, como conseqüência disso, não conseguir mais passar pro papel o que eu sinto. Seria como morrer afogada em minhas próprias palavras. 

Hoje, agora com 23, ainda tenho tudo isso, só não sei até quando. E não sei qual desses “26 de outubro” que ainda estão por vir irá me tirar isso, nem sei se esse medo todo é fundamentado, apenas queria compartilhá-lo, afinal as pessoas também fazer aniversário nos dias 27, 28, 29, 30... e medo todo mundo tem.

E assim, meio sem pretensão alguma termino esse texto, um diálogo torto entre eu e mim. E se alguém chegou até aqui, deixo meu agradecimento à vocês. E até o ano que vem!

“Vivernão é? — é muito perigoso. Porque ainda não se sabe. Porque aprender-a-viver é que é o viver mesmo.”  - Guimarães Rosa