Sem nada pra fazer numa noite quente de fim de ano (mais precisamente no dia 31 de dezembro) eu resolvi caminhar e acabei parando na praia. Andei alguns metros, peguei um refrigerante e ouvi uma voz ao pé do meu ouvido.
– Como uma garota tão linda está sozinha no Ano Novo?
Eu me virei num reflexo e derrubei o refrigerante na camisa do desconhecido.
– Errr... é... desculpa, você me assustou!– Tudo bem, não tem problema. Pelo menos agora você vai se sentir culpada e vai me dar um pouco de atenção.
Levantei o sobrancelha e o olhei rapidamente. Analisei desde a camisa branca molhada pelo refrigerante até as Havaianas e sim, ele merecia toda a minha atenção. Sorri um pouco sem graça, em parte porque eu realmente estava sem graça por ter sido tão desastrada e em parte porque estava com medo que ele ouvisse os pensamentos que começavam a surgir na minha cabeça.
– Você realmente está sozinha? – ele perguntava ainda incrédulo.
– Sim.
– Que tipo de pessoa passa o Ano Novo sozinha?
– O tipo de pessoa que não quer passar a Ano Novo ao lado de quem ela conhece.
– Que ótimo, então nada impede que você passe com quem não conhece, certo?
– Sim. Eu acho.
– Então vem, vou te apresentar algumas pessoas.
Ele me puxou pela mão e me levou até uma parte privada da praia.
– Coloca isso no pulso.
– Oi? – mais uma vez estava perdida em pensamentos. Ele me estendeu uma pulseira verde neon com um identificação. Eu fiz um sinal negativo com a cabeça mas ele insistiu. Acabei cedendo. Andamos um pouco mais e ele encontrou um grupo de amigos.
– Ei cara, onde você tava? Putz, o que aconteceu com a sua camisa?
– Foi culpa dela. – ele apontou pra mim com uma cara de bravo e depois sorriu com o meu espanto. – Foi culpa dela mas hoje ela é minha convidada então quero que vocês a tratem muito bem.
Um “ok” foi ouvido em uníssono mas quando ele ia me apresentar aos amigos percebeu um pequeno detalhe e começou a rir.
– Desculpa, mas do que você tá rindo?
– Eu ia te apresentar aos meus amigos mas percebi que nós não nos apresentamos ainda.
– Hm... verdade. Meu nome é Suéllem.
– Muito prazer Sue, meu nome é Frank. – ele me disse se aproximando, pegando na minha cintura e dando um beijo demorado na minha bochecha. – Nossa, você tem um perfume incrível! – ele sussurrou perto do meu ouvido e, se ele não estivesse me segurando juro que provavelmente eu teria caído.
– É melhor você tirar essa camisa cara! – uma voz na multidão fez a sugestão que foi acatada por ele. Frank tirou a camisa destruída por mim e instantaneamente eu comecei a suar e ele, ao perceber a reação, ficou feliz por tê-la provocado.
Ele era um cara incrível, lindo, simpático, tinha saído melhor do que encomenda numa noite incerta de um Ano Novo que tinha tudo para ser no mínimo estranho. Começamos a conversar sobre temas aleatórios até que, sem motivo algum começamos a debater sobre a cor de um objeto (talvez um balão, não lembro ao certo) que estava ao longe.
– É laranja!
– Laranja? Aquilo é rosa!
– Rosa? Você tá doida né? Só pode ser laranja.
– Agora eu tô vendo vermelho!
– Daqui a pouco vai falar que é verde com listras azuis! – ele gargalhou, me abraçou e fez eu me derreter ainda mais.
– É, eu devo tá meio daltônica. – respondi resignada de que nunca conseguiria descobrir a cor daquele estranho objeto, ainda dentro do abraço.
Ele sorriu e cochichou pro amigo do lado “ela deve tá excitada, daltônica num é isso?”. Eu enterrei o rosto no peito dele e não sabia se chorava ou se caía na gargalhada. Depois de um tempo (e ainda na praia), quando o dia amanheceu eu disse que tinha que ir pra casa.
– Eu te levo!
– Não precisa, obrigada.
– Eu insisto! Me dá o seu telefone também.
– Faz o seguinte: joga daltonismo no Google e quando você achar a resposta me liga, ok?
Ele me olhava sem entender enquanto eu dava as costas e ia pra casa rindo de mim mesma e da situação. Acho que eu devia estar daltônica mesmo. Nos dois sentidos. Bem, pelo menos a noite foi muito bem aproveitada. Mas era burro como uma porta.