domingo, 24 de junho de 2012

Um ornitorrinco na terra dos pôneis

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Olá, estranho!

Bem, primeiramente eu gostaria de anunciar que o post de hoje será autoral. Tá, eu sei que vocês pensam que eu escrevo sobre mim, mas isso não é verdade. Em geral são histórias de amigos, conhecidos, sonhos ou alucinações - ou seja: eu escrevo sobre vocês e não sobre mim. Com diria Oswald de Andrade, "A gente escreve o que ouve, nunca o que houve". ;-) Não que tenha muita necessidade de explicar, afinal... ah, bem, como o blog é meu sou eu quem supostamente escolhe o tema, só achei que ia ficar estranho quebrar a cronologia das coisas sem falar nada. (E eu sei que vocês estão aí. Todos vocês. Mais gente do que eu esperava, é verdade, mas o Google Analytics tá aí e não me deixa mentir rs). Vamos lá?



Ultimamente eu ando numa fase meio... weird. De verdade, me sinto um ornitorrinco na terra dos pôneis, uma peça redonda que o mundo insiste em encaixar em espaços quadrados. Sabe gente que não pertence a lugar algum? Gente que não tem base, que fincou suas raízes no céu? Então, talvez eu não me sinta um ornitorrinco, talvez eu seja um. E talvez o mundo seja a terra dos pôneis mesmo. Vai saber, esse é o eterno drama dos desajustados.

Lembro uma vez que eu perguntei à minha professora da 5ª série, que estava falando algo sobre um livro qualquer, por que ela estava se referindo ao personagem como O, já que personagem é uma palavra que tem origem no latim e deriva de persona, que é um substantivo feminino (sim, eu perguntei exatamente desse jeito). Depois de um silêncio sepulcral ela simplesmente continuou a aula e me ignorou solenemente (acho que até eu me ignoraria rs). Outra vez eu assustei a professora de literatura que, inocentemente, foi me perguntar quantos livros eu já tinha lido aquele ano e ela se assustou ao saber que eu tinha lido algo em torno de 50. E ainda expliquei que era porque "geralmente lia 1 livro por semana, arredondando pra 4 semanas no mês, mas poderia ser mais porque tinha semana que eu lia dois". Tadinhos dos meus professores.

Curioso, não? Apesar disso eu não sou e nunca fui superdotada. Pelo contrário, sou uma aluna bem ruinzinha (risos). Não porque eu sou burra ou coisa do tipo, mas tenho o grande problema de não conseguir compreender teoria como as outras pessoas. Sou distraída, relapsa e tenho dificuldade em focar a minha atenção em algo que eu não goste. Só que eu sempre fui curiosa -e desajustada- e, de alguma forma, estudar sempre foi a forma de me integrar. Passei a infância estudando porque não me encaixava em lugar algum, mas me sentia confortável com os livros. Quando cheguei ao Ensino Médio, apesar de ler uma quantidade hedionda de autores que ninguém da minha idade dava atenção, eu saí da categoria de nerd-que-senta-na-frente-do-professor pra algo perto louca-maluca-alucinada-que-quer-botar-fogo-no-mundo. E do lado dos "revoltados" eu me sentia mais em casa. Eram desajustados como eu, cada um com seu motivo, mas  éramos iguais. Passei o Ensino Médio entre dois extremos: a excelência em matérias humanas e a total decadência em matérias exatas. Nunca entendi o raciocínio matemático, pra mim a vida é discursiva e não múltipla escolha, e me forçar a encontrar uma única resposta pra algo, era negar todas as outras possibilidades. E eu sempre achei que o mundo era feito de possibilidades, nem que seja a de ficar parado. 

Eram matérias chatas com professores esquisitos às 07 da manhã todos os dias e olhar pra cara deles até às 18h era quase um sofrimento. Não tinha como uma adolescente achar alguma graça naquilo e eu não seria exceção. Enquanto meus amigos liam sobre o Romantismo, eu estava estudando Antropologia. Enquanto o professor fazia cálculos intermináveis de Física, eu lia sobre Filosofia. Aliás, acho que eu era a única que prestava atenção na aula de Filosofia. Por algum motivo desconhecido também gostava de Economia. Tentava achar alguma graça naquele mundo em preto e branco e começava a pintá-lo com as minhas próprias cores. Só achei algo que eu realmente gostasse quando comecei a estudar Administração de Marketing. Era tudo o que eu queria, era a única coisa que, no meio de tantos números,  falava de ideias. Confirmei meu desejo de fazer Comunicação que já vinha de anos anteriores e depois disso fiz um caminho meio torto até a faculdade (não vou entrar em detalhes, mas foi beeeeeem torto). Torto, mas cheguei. E cheguei em outros lugares também, mas sempre me senti weird. Eu nunca estive à altura das pessoas que estavam à minha volta, mas eu era alguém que sonhava e queria mais do que quem estava ao meu lado. 

Nenhum dos meus professores conseguia entender aquela garota que tinha uma interpretação de texto brilhante, mas na hora de fazer uma redação, escrevia coisas sem nexo porque "se perdia na sua própria cabeça". Ou como alguém pode parecer inteligente numa conversa, mas soar mais burro que uma porta numa prova. Meu desempenho sempre foi perto do medíocre em provas e excepcional nos trabalhos ou nas aulas. A grande diferença é que eu assistia e participava das aulas porque queria e fazia os trabalhos por vontade própria, o que eu não queria, eu simplesmente não fazia. A prova era imposição (não que o resto não fosse, mas a pressão era menor). Na real, eu até gostava do colégio, mas detestava a forma como os professores impunham as coisas por pura e simples decoreba e limitavam o pensamento livre.

Anos depois eu fui descobrir o DDA (Distúrbio de Déficit de Atenção) e uma parte da minha própria cabeça começou a fazer mais sentido. Eu não era só alguém irresponsável, como a minha mãe teimava em dizer; eu era alguém com um problema (por mais fútil que ela achasse que fosse). E chegar pra minha família e dizer que eu era "avoada" porque tinha Déficit de Atenção e precisava de tratamento era a mesma coisa que dizer que eu queria fazer uma cirurgia plástica ou bronzeamento artificial. Futilidade.

Cresci, me tratei. Tomei uns remédios loucos e parei. Parei porque o que me fazia pensar desenfreadamente ao ponto de não conseguir ordenar as ideias no papel era a confusão mental instaurada na minha cabeça. Com o tratamento eu me concentrava quinze vezes mais, só que eu não sabia o que fazer com a concentração porque as ideias tinham simplesmente sumido. Era como um cômodo vazio em que nossa voz dá eco pela casa inteira. Oco. Decidi domar a minha cabeça por mim mesma e por mais que tenha tido algum sucesso nisso, ainda sofro com alguns sintomas. Frequentemente "caio de pára-quedas" no meio da conversa porque antes eu tava viajando na minha cabeça. Perco coisas com uma facilidade sobrenatural. Tenho sérios problemas em me planejar, cumprir horários, tomar decisões ou simplesmente focar em uma única coisa. Tudo o que é normal e corriqueiro pras outras pessoas, pra mim precisa feito com prazer ou se torna num tormento. Sou movida a paixão e viver de paixão numa sociedade capitalista é bem complicado. Por enquanto ando conseguindo fazer o que gosto e estou feliz com o que consegui até agora, talvez um pouco mais lento do que as outras pessoas, mas continuo me orgulhando mesmo assim.
                     
Acho que quando eu era criança e gostava de ouvir a conversa dos adultos, eu já era um projeto de ornitorrinco. Quando corrigi a professora ou disse ter lido 50 livros, idem. Hoje, não importa mais onde eu chegue, ainda tenho a sensação de ser um ornitorrinco. Estágio, faculdade, rua, vida. Todo mundo é tão mais bem resolvido, mais bonito e bem penteado e eu sou... bem, eu sou isso aqui. Tenho defeitos "de fábrica" demais e uma autocrítica exacerbadaEu não posso renunciar ao que já aprendi, mas tenho medo de me tornar um pônei e magoar (ou renegar) os ornitorrincos. Posso largar tudo e parar exatamente onde estou ou chegar num ponto em que nenhum ornitorrinco já foi. Talvez eu evolua e crie asas, talvez desenvolva garras e cave melhor, ou talvez eu deva ficar parada e simplesmente não tentar algo que não é pro meu bico. Esse é o ponto atual da minha história. O que você faria?






Acho que só pra variar eu me perdi no que queria dizer, mas é mais ou menos isso aí. =)

domingo, 17 de junho de 2012

I just don't know...

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Engraçado, se alguém me perguntasse hoje como estou, não saberia responder. É como se na verdade não soubesse o que estou sentindo. Só sinto. Às vezes dói, às vezes liberta, mas nunca passa impune. Olho pela janela que por tantas vezes emoldurou as paisagens da minha vida e hoje vejo um mundo sem cor. Aliás, sem cor não. Uma vida inteira em sépia, que assim como os sentimentos, ficou no passado. E nessa vida presente, não sei como me conjugo, apenas tento conjurar novos -e velhos- fantasmas. As paredes que antes testemunharam a alegria do início, hoje choram uma ausência que nem eu sei se sinto falta. Não sei se faz falta a ausência, o sentimento ou a prepotência. Acho que nada disso faz falta na verdade. Hoje, aqui na janela, diante desse céu azulado em aquarela, sou a soma de duas almas rasgada pela metade. Mas eu não sei dizer como me sinto. I just don't know what to do with myself.


quarta-feira, 13 de junho de 2012

Pretérito

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Eu estive confrontando o fim, mas no fim não achei nada daquilo que todo mundo falava. Não achei nem quente, nem frio. Achei morno. Aquele calor de quando se está quase lá, mas ainda não se chegou a parte alguma. Esse deveria ser o melhor dos lugares, uma ponte entre o passado e o futuro, o Campos Elísios dentro do submundo que o teu coração se tornou. E não só o teu. Todos os corações se apagam vez ou outra. Essa é uma das graças da vida. Andar na rua dá a sensação de que todos os dias é Natal. Todo mundo passeando com seus corações ora incandescentes, ora opacos. E a vida ganha um pouco mais de cor e sombra.

Agora estou aqui, frente a frente com o fim e não sei o que dizer a ele. Não o vejo mau, o vejo como uma porta, como tantas outras portas que vão dar em algum lugar desconhecido. Seria normal, até bonito, se não doesse - mas se não doesse, não seria normal. Porque não é normal abrirem teu peito e arrancarem teu coração fora sem dor. Não é normal a apatia do papel pardo amassado jogado num canto do quarto escuro e vazio de alma.

Só sei que estou aqui, olhando para essa porta como quem atira uma taça na parede e, inutilmente, tenta parar o tempo até o instante em que ela estava inteira. Cada dia meu coração será apenas parte de um todo que nunca voltará a ser inteiro, porque ele tinha você e hoje só restou saudade. De você, de mim, de nós. Era.

Das coisas que não entendo: Dia dos Namorados

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Passar o dia dos namorados sozinho sempre te dá a oportunidade de observar a situação sob um novo ângulo. Não, não é da situação da sua vida que eu to falando, todo mundo sabe que você é encalhado. Tô falando do mundo em geral.

Dia 12 de junho, desde que o mundo é mundo, é sempre um mar de breguices, cafonices, fofices e similares. Parece que toda a força do cosmos está empenhada única e exclusivamente em descobrir a forma mais démodé de demonstrar seu amor.

Nunca fui muito de comemorar datas especiais. Nada contra, acho legal quem faz, mas esse tipo de coisa não é pra mim. Acho forçado dar um presente pra alguém só porque é uma data especial. Eu compro presentes e distribuo de forma aleatória (geralmente depende do meu humor rs), qualquer dia, qualquer hora, pelo simples prazer de ver um sorriso em retribuição. Eu gosto, fico feliz quando dou um presente, mas odeio que transformem meus prazeres em obrigações. Aí não dá, o tesão da coisa acaba.

Mas pera lá, calma! Acho legal ter um dia especial pra cada coisa. A vida é tão corrida que tem vezes que nem nos damos conta de quem está ao nosso lado. É legal ouvir/ver/ganhar coisas bregas, cafonas, fofas ou similares. Eu gosto, você gosta. O mundo é brega, não adianta negar. O que me incomoda de verdade é ver tanto “amor” ser demonstrado em um único dia e nos outros 364 essas mesmas pessoas agem como cretinas-filhas-da-puta.

Se é pra comemorar o amor, porque não fazê-lo durante o ano inteiro? Ou metade? Ou pelo menos uma semana (risos)? CADÊ COERÊNCIA NA VIDA? Por que a gente (e nisso eu me incluo) se esforça tanto por uma data visivelmente comercial e esquece, por exemplo, de dar bom dia ao cara da portaria? Educação também é amor! Por que os shoppings ficam cheios, os restaurantes lotados e os camelôs faturam vendendo ursinhos de pelúcia se, no próximo fim de semana, um estará mentindo pro outro só pra poder ir “pra night catar geral”? Pra quê todo esse estardalhaço se achamos normal uma criança pedir dinheiro no sinal? Qual o sentido de celebrar o amor se continuamos insensíveis perante o sofrimento alheio?

Vocês falam que comemoram o amor, eu vejo milhares de pessoas gastando seu tempo e fazendo a economia funcionar. Ainda falta muito para que possamos sentir o Amor, comemorá-lo é quase utopia. O que falta (e falta mesmo) é amor no mundo. Falta alma nas pessoas.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Os desajustados

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Sempre têm os desajustados, os ditos errados. Aqueles que se movem tão rápido que é quase impossível acompanhar. Os que riem alto e falam baixo porque não precisam chamar atenção, simplesmente são o que são e não se envergonham disso. Eles não se preocupam com o destino, estão é curtindo a viagem. E são esses mesmos, esses que parecem não se enquadrar. São peças redondas que o mundo insiste em querer encaixar nos espaços quadrados. Mas eles não se dobram e saem por aí tirando coisas -e pessoas- dos seus lugares. São sempre aqueles que têm um ponto de vista completamente diferente do nosso. Eles parecem chacoalhar a vida e só estão satisfeitos no caos - das ideias. Mexem, quebram e constroem algo no lugar que ninguém jamais pensou em fazer (ou ficou com preguiça). Fazem e fazem melhor, mais fácil, mais simples.

Quando você encontra com um deles, é bem fácil de identificar. Enquanto o verbo do mundo é ter, eles querem fazer e não se importam de fazer tudo ao mesmo tempo, afinal é assim que ficam mais felizes. Querem tudo pra ontem, latejam uma urgência que só o impossível pode alcançar. Mas eles alcançam e sempre conseguem ir um pouquinho mais longe.

São os bobos, os loucos, os artistas, os aventureiros, os rebeldes. São todos aqueles que perceberam que a vida só tem sentido quando vista sob uma nova perspectiva. Eles valorizam pequenas coisas e são capazes de sorrir com a mesma intensidade em um pôr-do-sol ou em uma chuva forte. São os insanos, os desprogramados, os inquietos. São aqueles que na verdade, só sabem fazer uma coisa: amar.