segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Digressões com leite

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Numa manhã qualquer o despertador toca ao lado da minha cama. Como de costume me estico lentamente, tentando acordar cada músculo do meu corpo. Viro de um lado pro outro, esfrego os olhos, olho pro teto – lembro de trocar a lâmpada queimada há uma semana – e sento na cama. Descalço, vou cambaleando de sono até a sala e ligo a TV. Futilidades. Vou até a cozinha preparar o café da manhã e pego ovos e leite na geladeira. Café da manhã sem café? Nunca gostei de café, não vai ser por uma convenção que irei adquirir o hábito. Voltemos ao leite da manhã. Acendo o fogo, pego os ovos, pego o óleo, taco o óleo na frigideira e observo o óleo esquentar rodopiando de um lado a outro sob meus comandos. Seria bom que tudo pudesse ser controlado por nós. Pensando bem acho que nos tornaríamos ditadores do óleo quente. Será que era melhor fritar com manteiga? Quebro os ovos, jogo na frigideira e observo eles formarem um desenho estranho, amorfo e sem nexo. Enquanto jogo sal fico me indagando quem teria vindo primeiro: o ovo ou a galinha? Teoricamente antes dos galináceos já havia ovos de répteis, mas acho improvável um lagarto nascer com penas. Ovo estrelado ou mexido? Estrelado lembra um disco voador. Será que em outros planetas também têm ovo? Mas aí teriam que ter as galinhas. Ou os répteis. Acho que vou pôr um pouco de queijo. E o ovo, veio da onde mesmo? Bem, o meu veio do supermercado e já ta quase queimando. Depois de pronto coloquei o ovo num prato, o leite no copo e comecei a comer. Droga, ficou sem sal.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Cadê?

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Cheguei com a pressa
de quem confessa
nunca se planejar.

Entrei pela janela
porta aberta
coração acelerado.

Olhei,
vi escuro
tomei um susto;
era absurdo!

Com a palavra guardada
eu esperava, esperava
e nada!

Poderia ser por ele,
poderia ser pelo outro,
mas foi por você.

Meu abraço ainda está guardado
no peito abafado, doido pra te ter.




quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Poema para um verso

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Eu tenho um verso
preso aqui dentro que teima
em não querer pular
para o papel.

Ele andava quietinho
mas eu o vim perturbar
em meio ao doce silêncio
que teima em bradar nos meus ouvidos.

Mas os versos são sensíveis
não gostam de ser importunados;
são geniosos e só nos visitam
na hora que bem entendem.

Alguns são faceiros e alegres
outros, briguentos e carrancudos
mas este que está preso
não é uma coisa nem outra.

Ele é tímido, e como tal
adora se esconder, me faz
trocar o ´´R`` pelo ´´L``
numa enorme confusão lingüística.

Este verso é malandro
ele quer fazer-se esquecer
pra depois numa manhã de domingo
ele sair assim, inteiro, de uma vez.

Viu?

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Sem nome

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Às vezes você só precisa de uma coisa, mas não sabe o que é. Você nunca teve, nunca viu pra vender, mas você sente que precisa disso, e aí você vai procurar. Você olha em cada canto, embaixo de cada pedra, no topo das montanhas e até em alguns mares, mas não encontra nada. Você busca incessantemente, mas não sabe o que, só sente que quando encontrar irá reconhecer. Você procura por algo que não tem nome nem rosto e pode tomar várias formas. Você atravessa vales e florestas, desertos e rochedos, bosques e colinas até encontrar. Você luta contra monstros ferozes, gigantes e feiticeiros sabendo que um dia esse esforço será recompensado. Já com o corpo rasgado por espinhos você senta e se distrai na sua busca e, quando você menos espera, onde nem imaginava procurar, ele aparece e sorri pra você o sorriso mais doce e sincero que você já viu. Você reconhece, sabe que era aquilo que tanto procurava e sente-se incrivelmente feliz. Um só abraço é capaz de recompensar todos os monstros que você enfrentou. A coisa continua sem nome (apesar de agora ter um rosto), mas você nem liga, afinal mais importante do que saber é sentir, e sentimentos  imensuráveis.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

O milagre

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A cada dia desejamos um milagre, esperamos ansiosamente que algo aconteça e mude nossas vidas. Esperamos que uma força maior olhe para nós, meros mortais, e que nos conceda sua graça. Esperamos a tempestade mas não sabemos desfrutar da chuva fina, que de tão escassa parece atravessar nossos poros. Desejamos um dia de sol forte e céu azul mas não aproveitamos o calor brando de uma manhã de outono. Por esperar grandes acontecimentos, por vezes idealizados, esquecemos de aproveitar as pequenas coisas. Desejando o grande momento da recompensa sequer apreciamos a espera, e esperar é tão importante quanto chegar. Em algumas situações o caminho é mais prazeroso do que o destino final. Quanta coisa você fez, quanto você aprendeu, tudo o que leu, ouviu ou vivenciou, as pessoas que você conheceu, tudo isso agora faz parte da sua essência. Talvez tenham vários caminhos para o mesmo destino, e algumas vezes você vai se perguntar porque parece estar no mais difícil, mas você simplesmente precisava passar por isso. E talvez quando você chegar ao final dessa empreitada irá ficar frustrado com a recompensa. Onde está o grande milagre que vai mudar a sua vida? Mas a cada dia você é salvo de alguma coisa. Alguém te diz uma palavra de conforto, ou um sorriso em meio ao caos. Cada dia pequenos milagres acontecem e você os deixa de lado, acreditando que não há muita importância em pequenos gestos. Só quando chegar ao final é que perceberás que todos aqueles pequenos milagres eram fatias separadas da sua grande recompensa. Não espere o extraordinário para mudar a sua vida. Não espere o milagre, seja o milagre!

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Minha missão

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Um dia um anjo torto, desses que andam nas sombras, disse:

- Vá, e seja a voz de todos aqueles que o mundo calou, todos que desistiram de seus sonhos. Faça-os acreditar novamente, mostre-lhes o caminho, dê suas palavras mais desinteressadas e sê fiel a teus princípios. Não te preocupes com inspiração alguma, pois quando menos esperar ela irá surgir como um clarão que irá lhe assombrar madrugadas a fio, nas quais escreverás incessantemente até findar-lhe as ideias. Serás uma exímia conhecedora da alma humana e, como tal, saberás transcrever como ninguém as mazelas que aprisionam cada ser. De fato isto poderá lhe acarretar alguma dor e é bem provável que muitos não a compreendam e chegarão ao ponto de lhe reprovar, mas não te zangues, atingirás teu objetivo independentemente das pedras em teu caminho. Tuas palavras terão a densidade necessária para que os leigos entendam e os instruídos não as descartem. Suas estrofes devem trazer a alegria e a esperança de que cada um pode - e deve! - construir seu futuro da melhor maneira possível. Vá e transmita tua mensagem pois agora teus versos têm sabor.

Depois disso acordei, e sem saber se era verdade ou não, tomei a pena e pus-me a escrever. Tendo me dado um toque de azul ao sangue agora sou mensageira das palavras e não há força no mundo que possa intervir sobre o poder da criação. A estrada não se escolhe, apenas segue-se. A leitura é um prazer. A escrita, uma obrigação. Essa é a minha missão.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Primeiro de abril

Nada é por acaso, e não é por acaso que este blog está sendo inaugurado no dia primeiro de abril. Não é à toa a ambiguidade e também não é à toa que eu retornei ''de novo'' - como diria uma certa funkeira - ao mundo dos blogs. Adoro a internet, essa "terra de ninguém" me fascina, cada um faz as suas próprias verdades, afinal pra se fazer arte é preciso ter muita verdade pra se contar uma mentira. E o que isso tudo tem a ver? Sei lá, é primeiro de abril, tirem suas próprias conclusões. E FELIZ DIA DA MENTIRA, ou seria melhor dizer, da verdade inventada? Até breve!