quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Love me

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Escrito originalmente no dia 02 de setembro de 2012, às 04:03 da manhã.



Me ame uma, duas, três vezes.

Me ame às quatro da manhã e às duas da tarde com o mesmo ardor.
Me ame até suar, me ame até desidratar.
Me ame forte, veloz ou suave.
Ame mesmo me odiando, só pelo costume de amar; e quando você enjoar, me ame até o pôr do sol ou o nascer do outro dia.
Me ame até faltar amor, me ame até eu não precisar de amor, me ame porque eu sei que a sua vocação é amar.
Me ame até ralar, até sangrar, até gozar.
Goze comigo, ame comigo, seja comigo.
Me ame além de um amigo, até a voz falhar, o coração parar, até tudo na vida acabar.
Me ame cinco, vinte e cinco, quinhentos e vinte e cinco vezes e só então me ame mais e mais, porque é aí que eu vou precisar.
Me ame, me ame até eu acreditar.



sábado, 17 de novembro de 2012

1011 palavras de adeus

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"And the hardest part was letting go not taking part, was the hardest part..."
The Hardest Part - Coldplay



Querido, eu preciso te contar uma coisa. E é dessas coisas que a gente fala com um nó atado na garganta e com o coração em desalinho. Amor é coisa séria, por isso preciso te dizer. Porque nada pode ser mais leviano do que ser vil com o sentimento alheio.

Sabe, pra começar eu nem sei por onde começar – porque eu não sei como sinto. E como se explica milhares de coisas inexplicáveis? Sorrir é um verbo que só aprendi a conjugar depois de olhar nos teus olhos. Não há adjetivo ou substantivo que possa se igualar. É falta de léxico.

Falta de prumo, falta de rima, milhares de incertezas. Você me ensinou tanta coisa que fico sem jeito de não saber agradecer. Mais do que coisas, você me ensinou sobre mim. Estranha essa minha mania de dormir meio torta, né? Ou de beber água no gargalo da garrafa. Ou essa coisa de sempre ter uma sacada ácida. E você nem liga. Tem gente que não entende sarcasmo, mas você não liga. Eu faço pra provocar mesmo e, porra, você não dá a mínima! Acabei me tornando agridoce.

Aprendi a baixar a bola. A ver que o mundo não está contra mim. Pelo contrário, ele tá até torcendo um pouquinho por mim. Talvez tenha ficado cansado de ver eu me foder – ou só ficado com pena, quem vai saber? Aprendi responsabilidades que nenhum garoto poderia me ensinar. Até porque isso é coisa de homem, não de menino. Homem daqueles que não precisa fazer joguinhos fingindo que vai desaparecer, só pra te deixar insegura. Até porque insegurança mulher tem de sobra. Homem de verdade não precisa fazer essas coisas. Eles aparecem quando querem e vão embora quando precisam. Não há regras porque não há jogos. É verdadeiro, mesmo que seja no reino da fantasia.

E hoje eu tô aqui sentindo o seu cheiro na minha cama tentando entender como ele foi parar ali. Ele deve ter pulado em mim no meio daquele último beijo na cozinha, pegou uma carona do meu ombro e agora repousa no meu travesseiro. Saudades daquele beijo meio roubado, meio cedido. Saudades da sua barba de final de semana que só me visita domingo à noite, porque toda a segunda ela se despede e deixa em mim uma daquelas vontades inconfessáveis.

E quer saber? Metade dos meus sentimentos por você são inconfessáveis e a outra metade inafiançáveis. Deveria ser ilegal despertar tanta paixão. Se isso fosse amor, seria considerado imoral. Mas pro amor falta só um pulo e eu fico aqui dando passos pra trás quando deveria me jogar para frente. Ai já não dá.

Você entrou em terreno proibido e eu nem sei como conseguiu a chave dessa masmorra. O que eu quero mostrar é exatamente essa bagunça que eu sou e que você virou parte um pouquinho. O que eu quero é que você entenda que a culpa é minha, não sua. Porque quando eu precisei de espaço, você me deu o céu e, mesmo sem saber pra onde ir, eu sei que você saberia me guiar.

Mas o problema de verdade é tudo o que está desarrumado. E aqui dentro é um caos, talvez já tenha dado pra perceber. Tem dias que não tem lugar nem pra mim mesma. Tenho que ficar brigando com todos os meus pedaços para que o meu inteiro tenha um espacinho. E nossa, acho que nem lembro mais como é ser inteiro. Por inteiro.

Você sabe que eu nunca quis te magoar, né? Já engoli meu orgulho uma vez e talvez por você eu pudesse fazer de novo. Só por você. Só mais uma vez. O problema é tudo o que a gente joga pra debaixo do tapete achando que nunca teremos visita em casa. E aí do nada aparece alguém que entra pela janela e já senta colocando os pés no sofá. Não dá.

O problema é tentar curar fratura exposta com band-aid. Ferida não sara sem remédio. E eu nem sei ainda qual é a minha cura, mas tô disposta a descobrir. Só que isso vai ser uma viagem longa, mais louca do que tomar ácido. Na verdade vai ser como jogar ácido no peito. E puts, vai doer. Talvez eu ache que não vá suportar, mas vai ser pela última vez. TEM que ser pela última vez. Sabe, já passou da hora de expurgar isso. Catarse pra mim é estado de espírito, mas até os fantasmas merecem descansar.

O caminho será longo e eu não posso pedir que você venha comigo. Na verdade é exatamente o contrário. Tô pedindo que você desça e troque o rumo da estrada. E por Deus, nunca pedi algo tão sério assim! Eu sei que isso vai fazer doer ainda mais, mas eu sou assim mesmo. Preciso fugir pra me remendar. Tem tanta vida vazando que parece uma inundação. E sou eu que estou indo embora escorrendo pelo meus próprios dedos.

Promete que não vai me odiar? Espero que nenhuma parte do seu corpo sinta raiva de mim, principalmente aquelas que eu mais amo. Guarda aquela camisa sua que eu gosto e acabou ficando com o meu cheiro. Não pinta as paredes do seu quarto de gelo. Gelo nem é uma cor, é um estado físico da matéria. Deixa assim do jeito que tá, combina com seu sorriso meio inocente, meio sacana. Se der saudade de verdade, dessas que aperta o peito, coloca aquela música do Debussy e ouve comendo sorvete de flocos com cobertura de morango. Você vai ficar bem, querido. Eu prometo. Agora eu tenho que ir. Me desculpa por tudo, mas meu peito é de aço e em alguma parte do caminho desaprendeu a amar. Seu amor aqui viveria em cativeiro, então prefiro deixá-lo livre.

Mas respondendo sua pergunta: talvez eu pudesse te amar, mas preciso suturar meu coração primeiro. Talvez eu já te ame, mas isso eu nunca vou saber. Acho que o aço do meu peito tá enferrujando. O que tem aqui por baixo é mais do que eu. E será sempre um pouquinho seu.


Beijos,
S.