Eu estive confrontando o fim, mas no fim não achei nada daquilo que todo mundo falava. Não achei nem quente, nem frio. Achei morno. Aquele calor de quando se está quase lá, mas ainda não se chegou a parte alguma. Esse deveria ser o melhor dos lugares, uma ponte entre o passado e o futuro, o Campos Elísios dentro do submundo que o teu coração se tornou. E não só o teu. Todos os corações se apagam vez ou outra. Essa é uma das graças da vida. Andar na rua dá a sensação de que todos os dias é Natal. Todo mundo passeando com seus corações ora incandescentes, ora opacos. E a vida ganha um pouco mais de cor e sombra.
Agora estou aqui, frente a frente com o fim e não sei o que dizer a ele. Não o vejo mau, o vejo como uma porta, como tantas outras portas que vão dar em algum lugar desconhecido. Seria normal, até bonito, se não doesse - mas se não doesse, não seria normal. Porque não é normal abrirem teu peito e arrancarem teu coração fora sem dor. Não é normal a apatia do papel pardo amassado jogado num canto do quarto escuro e vazio de alma.
Só sei que estou aqui, olhando para essa porta como quem atira uma taça na parede e, inutilmente, tenta parar o tempo até o instante em que ela estava inteira. Cada dia meu coração será apenas parte de um todo que nunca voltará a ser inteiro, porque ele tinha você e hoje só restou saudade. De você, de mim, de nós. Era.