quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Quando a vida acontece

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Dizem que não é impossível ser feliz depois que se cresce, só é mais difícil. Bem, dificuldade não é exatamente a palavra mais adequada para definir. “Árduo” talvez se aproxime mais. “Doloroso”, quem sabe? Crescer é mais ou menos assim: um dia você não almoça porque preferiu ficar jogando vídeo game com os amigos e no outro você está preso no trabalho numa reunião com o cliente e não tem uma balinha sequer pra tapear o estômago.

Crescer é assim mesmo, no susto. Um dia sua maior preocupação são as notas do boletim e no outro não param de chegar contas no seu nome. Contas e mais contas. De uma hora para outra o que era engraçado é substituído pela obrigação. E obrigações sufocam. E aí naquele dia em que seu chefe tira pra te perturbar, cobrar o prazo do projeto, reclamar do layout ou falar que o seu café não está bom, é nesse dia que você começa a sentir falta dos professores que cobravam o dever de casa. E quando você percebe que seus colegas de trabalho querem, na verdade, pisar na sua cabeça, é aí que você começa a sentir falta, por exemplo, daquela garota da sua sala meio metida que não ia com a sua cara. Você sente falta do colégio, da faculdade, das farras. Lembra de como você reclamava do uniforme de escola? Pois é, hoje você acorda meia hora antes e fica com o cérebro fritando de manhã para escolher a melhor roupa para trabalhar. Você passa dias insatisfeito com alguma coisa e sente falta daquele amigo que só de olhar pra você sabia que algo não estava certo.

E por falar em amigos, você vai sentir falta deles também. O tempo é cruel e a distância não é misericordiosa. Quanto mais o tempo passar, maior será o esforço que você terá que fazer para manter as amizades. Se esforce. Em alguns momentos da vida eles foram tudo o que você tinha e futuramente podem ser tudo o que você irá precisar. Mas, no meio disso tudo, o que você mais tem que tomar cuidado é com você mesmo. Não se deixe transformar naquilo que você sempre detestou. Não traia seus princípios, não magoe quem você ama, coma seus legumes e se exercite mais. Ah, esqueci de falar pra você acreditar em Papai Noel também. É lógico que isso tudo vai dar errado. Você magoar quem te ama, trair seus princípios e legumes e exercício são quase utopia. Crescer é assim: dói, sangra, rasga e lateja, mas se você permanecer no seu caminho, não há o que temer.

E não esqueça: vai doer, mas “não é o coração que dói, é a cabeça que pensa demais”

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Construção

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Tô me reconstruindo, me remoldando. Tô catando cada pedacinho de mim e juntando pra fazer o meu inteiro, recolhendo cada caco de sonho estilhaçado e fazendo um mosaico de esperança e luz, cor e som, onde tudo pode ser do jeito que eu quiser, como eu quiser.

Cansei de varrer pra debaixo do tapete todos aqueles problemas intermináveis. Acordei numa manhã de domingo e o médico ordenou:

“Pare de varrer tudo para debaixo do tapete! Isso faz mal, não é saudável. Junta tudo e joga ao vento teus problemas, depois disso toma vitamina C e decerto há de passar”.

Tô juntando cada gota de chuva e construindo meu mar, assim, de mansinho. Não quero o que eu era, aquilo também não era inteiro. Quero me moldar entre pedaços de estrelas, estilhaços de desejos e um punhado de esperanças. Tô me reformando, tô subindo as paredes do meu castelo novamente e dando nova cara aos cômodos. Agora ele não terá muros, terá grandes e espaçosas pontes. Não quero mais separar, quero unir. Cansei de dividir lágrimas, quero multiplicar gargalhadas daquelas de doer a barriga.

As unhas, antes longas e vermelhas, agora por um bom tempo ficarão curtas e cruas. Essa cara que já não é minha vou levando até voltar a ser eu (será que algum dia já fui eu?). Meus pés que ainda vacilam porque ainda não sabem para onde devem ir, agora passam um tempo descalços ao sabor da terra. 

Ando escolhendo outras músicas, outros gostos e dos gostos pela vida. Tenho mudado palavras de melancolia por frases de amor porque, no final, o amor é a única coisa que importa, nem que seja por si mesmo. Tenho trocado de bocas e de corpos porque ainda não sei em quem me encaixo, daí vou me colando, espremendo e juntando até encontrar e ouvir o click. Tenho querido outras coisas, outras pessoas, outras vidas e das vidas quero extrair mais vida e propagar a vida até que a minha própria se finde.

Quero o amor, quero o mar, o além mar, mas tô só me reconstruindo, devagarzinho, assim, sem pressa. E um dia, um dia eu voltarei a ser eu, em virtude e plenitude, sem limitação. Mas por enquanto, por enquanto ainda é um tijolo de cada vez.


sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Minha primeira vez

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Eu lembro perfeitamente como aconteceu, foi quase amor à primeira vista. Quase. Mas antes eu tive que entender. Eu e essa minha mania de tentar entender o “inintendível” (bom dia, neologismo, você por aqui?).

Era um fim de tarde e eu tinha acabado de chegar da escola, acho que tinha uns 14 anos, mais ou menos. Cheguei no quarto e joguei a mochila no chão, como de costume. As paredes do cômodo pareciam mais tortas do que o normal, já que meu quarto, ao invés de ser um quadrado ou retângulo, é um paralelogramo (curioso não? rs).

O rapaz me encarava com os olhos claros mais suplicantes que já vi. Ele se aproximava, mas parecia recuar. Eu queria, precisava dele, mas não entendia exatamente o que estava acontecendo. Sua voz invadia meus ouvidos e me desorientava, ele cantava e eu podia ouvir o cheiro de cores e folhas molhadas. Ele pedia passagem e eu permiti. Entrou, me violou, retirou a venda da inocência e me proporcionou a melhor experiência da minha vida.


A mochila estava jogada no chão e a TV, sintonizada na MTV. Na tela, um rapaz loiro andava de costas e cantava com a voz mais suave que eu já tinha ouvido. Fiquei inerte, não sabia se sentava na cama, se permanecia de pé ou se apenas continuava com o sorriso bobo que estava grampeado no meu rosto, mesmo sem entender o que estava sentindo, eu sentia e isso era o que importava, eu FINALMENTE sentia!

Hoje estou a aproximadamente 24 horas de ver isso ao vivo, a banda que me guia por quase 10 anos, e a emoção é a mesma. Cada vez que ouço uma música ainda sinto o cheiro das cores e amanhã sei que isso será ainda mais forte. Amanhã, quando o Chris Martin cantar “she dreamed of paradise”, eu terei finalmente encontrado o meu. <3




segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Exageros

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Eu não caibo mais em mim, de tudo o que eu tentei ser, só restou a vontade. Essa tentativa vã de ser algo melhor do que se é agora, não que o melhor fosse mesmo o mais esperado, mas é apenas diferente. Olho-me no espelho e vejo arestas mal aparadas, onde cada ponta solta procura a carne próxima para furar, rasgar e gritar quão frouxo na verdade são os sentimentos cá dentro.

Encaro meu rosto e não acredito que a obra completa, na verdade, não passe de um rascunho mal acabado do que eu poderia ser, mas por acasos indigestos do destino, ainda não sou. E então fico me perguntando: um dia serei? Poderei ser uma obra acabada ao invés de um esboço meio apagado pelo tempo? Tenho medo de nunca ser e, por não ser, ficar presa ao enfadonho e nefasto era. Tenho a angústia das almas incompreendidas que vagam pelo mundo em busca de amor. Tenho a ânsia dos que buscam aquilo que nunca tiveram. E por esse nunca ter é que eu saberei ser porque, ao contrário dos outros, eu não caibo em mim. E das fronteiras inexistentes do ser eu me transbordo: em sentimento.

A fuga

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Perdoe-me por fazer isso assim, de súbito. É que não sei ser de outro jeito quando essa urgência arromba as portas do meu peito e deixa o coração assim, sobressaltado.

Desculpe-me por não ter tido tempo e nem o cuidado necessário para escolher as palavras certas, mas quando dizia que era para você, por você, todas elas fugiram em direção oposta a minha folha em branco, deixando-me aqui, com algumas poucas corajosas.

Queria dar-te o que ninguém nunca deu, mostrar o que ninguém mostrou, ensinar o que nunca foi ensinado mas fico resignado ao fato de que nada disso deverá ser possível. Irei me desculpar mais uma vez por ser tão previsível.

Lamento por tanta incompreensão, é que já não entendo nem a mim, fazer-me crível é procurar forças nos mares mais abissais.

Peço desculpas por chegar assim sem avisar mas eu sempre soube que era você, você sempre desconfiou que era eu. E assim, meio confuso, aqui na última linha fica o que todas as outras palavras ainda não conseguiram dizer: eu te amo.


Das impossibilidades

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Ando cansada de impossibilidades, das tentativas reais na minha cabeça que, na verdade, não passam de ilusões. Ando cansada de desenhar pessoas perfeitas para mim quando tenho que me contentar com rascunhos mal acabados e sem alma. Enquanto tudo o que eu posso ser é suprimido, retalhado e amordaçado pela realidade, cada parte de mim morre um pouco, devagar e lentamente.

Da impossibilidade do ser, cansei do era, agora quero o será. Quero o futuro no agora porque já não há mais ontem para descrever o que sinto – como sinto? Ando procurando espaço entre as lacunas do ser para achar algo em que possa me segurar, entretanto sobrevivo à beira do abismo balançando-me entre dois trapézios que são sustentados por uma fé quase inexistente de que algo pode mudar. Mas não muda. E enquanto não muda, eu sobrevivo aqui, mergulhada na insustentável leveza do ser. Do era. Sou.


To the sea

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Cada gota desse oceano que nos separa é uma parte do meu amor, uma minúscula célula vagando rumo ao horizonte sem fim de sonhar. Cada pedaço desse mar é um querer sem fim, um desejar desmedido, mais do que uma paixão sem limites.

Acalma esse coração inquieto, apazigua essa tua alma fadada ao desespero. Se a ausência te assombra, deixa-te ser mais do que realmente és. Seja olhos, ouvido e coração. Dê tua alma e ganhe como retorno a bênção da redenção.


She

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Ela chegou sobressaltada, correu até o banheiro, tateou a parede à procura do interruptor. Encarou-se no espelho e não reconheceu quem viu. Aquela carcaça, aquele rosto já não era mais dela. Desenhou os contornos do rosto com o indicador. Em qualquer outro dia ela diria que estava feia, gorda ou, na melhor das hipóteses, apresentável. Não que de fato não fosse bonita, mas qualquer um que olhasse mais atentamente poderia jurar que ela esforçava-se demais para não ser.

Abaixou a cabeça e apoiou-se na beirada da pia, lavou o rosto e fitou o espelho novamente. Quem era essa pessoa? Quem era essa mulher que tomara seu corpo? Mulher? Ainda ontem era apenas uma menina com suas bonecas. Menina. Criança. Mulher. Ela não enquadrava-se em nenhuma categoria. Na verdade ela parecia um espírito livre que tomou para si um corpo desavisado. Lavou o rosto com a água gelada da torneira e a deixou aberta, algo ainda precisava ligá-la a realidade.

Cambaleou até o quarto e encarou a própria cama como quem procura algo fora do lugar. Não encontrou. Tirou toda a roupa e jogou-se na cama em fúria e sentimento enquanto desenhava animais e seres imaginários no teto. A luz que adentrava pela janela dava um toque soturno ao ambiente. Ela cobriu-se com o lençol de seda e o frio do tecido se contrapôs ao calor da sua pele. Abraçada a si, ela desejou ser dela novamente, desejou ter controle, poder e fúria. Ela abraçava-se na vã tentativa de voltar a ser quem era e então permitiu-se chorar. Chorou e percebeu: ela não era mais ela, agora só era ela estando nele.


8 ou 80

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E sete meses depois eu resolvo finalmente tirar o pó daqui e... recomeçar. A última postagem data de 14 de janeiro e durante esse tempo todo me perguntei se valia "reacender" essa chama. Daí me peguei confusa, triste e sufocada e percebi que, o que não era dito estava me matando. Cada palavra que não via a luz do dia era engolida a seco causando o que eu acabei de apelidar de indigestão criativa (rs). Não importa se é real ou abstrato, moralista ou abominável, se antes o excesso de crítica me impedia de dizer, agora vamos direto ao ponto estando certo ou execravelmente errado. Engoli demais, agora eu quero vomitar. Bom dia, boa tarde, boa noite, você está no Des-consertando e pela minha lei aqui é 8 ou 80. Sem meias palavras, sem meias verdades, apenas o meio incompreensível. Divirta-se!

8 ou 80 - Pitty
Todo mundo tem segredo
Que não conta nem pra si mesmo
Todo mundo tem receio
Do que vê diante do espelho.

Eu só quero o começo
Me entedia lidar com o meio
Quero muito, tenho apego
Já não quero e só resta desprezo.

Nem sempre ando entre os meus iguais
Nem sempre faço coisas legais
Me dou bem com os inocentes
Mas com os culpados me divirto mais.


sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Das expectativas

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Todo início de ano é a mesma coisa: pegamos a lista do Ano Novo, damos uma olhada, respiramos fundo e pensamos ansiosos por onde começar. Dia 1º de janeiro é sempre um dia vazio. Sempre. Quando voltamos pra casa descalços, com o par de sapatos nas mãos e com o olhar perdido no horizonte é que somos mais vazios. Não há nenhum outro dia no ano que nos dê mais esperança do que o dia 1º. É como sair da prisão com a ficha limpa, sem um passado para se preocupar, apenas com um futuro para preencher. É o melhor dia do ano na minha humilde opinião justamente porque você sente que pode tudo e ainda tem essa força sensacional que te faz acreditar sempre no melhor (seria a fada do Ano Novo? rs). É como ganhar uma nova folha em branco para criar e a arte que você vai colocar nela só depende de você. Pode ser qualquer coisa ou você pode simplesmente amassá-la e jogá-la no lixo, não importa, ninguém pode tirar uma linha sequer da sua história sem a sua permissão. O que vamos criar e o que os outros criarão é a grande surpresa porque nem mesmo a nossa arte pode ser prevista. São inúmeras possíbilidades que podem ser aproveitadas igualmente de inúmeras formas. A "incontabilidade" das possibilidades é que dá o charme ao processo e aumenta a ansiedade. Dia 1º é sempre um dia vazio mas janeiro carrega sempre nossas maiores expectativas. Então nesse caso, que tudo dê certo.