quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Daltonismo, um balão e uma porta


Sem nada pra fazer numa noite quente de fim de ano (mais precisamente no dia 31 de dezembro) eu resolvi caminhar e acabei parando na praia. Andei alguns metros, peguei um refrigerante e ouvi uma voz ao pé do meu ouvido.

Como uma garota tão linda está sozinha no Ano Novo?

Eu me virei num reflexo e derrubei o refrigerante na camisa do desconhecido.

Errr... é... desculpa, você me assustou! Tudo bem, não tem problema. Pelo menos agora você vai se sentir culpada e vai me dar um pouco de atenção.
Levantei o sobrancelha e o olhei rapidamente. Analisei desde a camisa branca molhada pelo refrigerante até as Havaianas e sim, ele merecia toda a minha atenção. Sorri um pouco sem graça, em parte porque eu realmente estava sem graça por ter sido tão desastrada e em parte porque estava com medo que ele ouvisse os pensamentos que começavam a surgir na minha cabeça.


Você realmente está sozinha? – ele perguntava ainda incrédulo.
Sim.
Que tipo de pessoa passa o Ano Novo sozinha?
O tipo de pessoa que não quer passar a Ano Novo ao lado de quem ela conhece.
Que ótimo, então nada impede que você passe com quem não conhece, certo?
 Sim. Eu acho.
Então vem, vou te apresentar algumas pessoas.

Ele me puxou pela mão e me levou até uma parte privada da praia.

Coloca isso no pulso.
Oi? – mais uma vez estava perdida em pensamentos. Ele me estendeu uma pulseira verde neon com um identificação. Eu fiz um sinal negativo com a cabeça mas ele insistiu. Acabei cedendo. Andamos um pouco mais e ele encontrou um grupo de amigos.

Ei cara, onde você tava? Putz, o que aconteceu com a sua camisa?
Foi culpa dela. – ele apontou pra mim com uma cara de bravo e depois sorriu com o meu espanto. – Foi culpa dela mas hoje ela é minha convidada então quero que vocês a tratem muito bem. 

Um “ok” foi ouvido em uníssono mas quando ele ia me apresentar aos amigos percebeu um pequeno detalhe e começou a rir.

Desculpa, mas do que você tá rindo?
Eu ia te apresentar aos meus amigos mas percebi que nós não nos apresentamos ainda.
Hm... verdade. Meu nome é Suéllem.
Muito prazer Sue, meu nome é Frank. – ele me disse se aproximando, pegando na minha cintura e dando um beijo demorado na minha bochecha. – Nossa, você tem um perfume incrível!  ele sussurrou perto do meu ouvido e, se ele não estivesse me segurando juro que provavelmente eu teria caído.
É melhor você tirar essa camisa cara! – uma voz na multidão fez a sugestão que foi acatada por ele. Frank tirou a camisa destruída por mim e instantaneamente eu comecei a suar e ele, ao perceber a reação, ficou feliz por tê-la provocado.

Ele era um cara incrível, lindo, simpático, tinha saído melhor do que encomenda numa noite incerta de um Ano Novo que tinha tudo para ser no mínimo estranho. Começamos a conversar sobre temas aleatórios até que, sem motivo algum começamos a debater sobre a cor de um objeto (talvez um balão, não lembro ao certo) que estava ao longe.

É laranja!
Laranja? Aquilo é rosa!
Rosa? Você tá doida né? Só pode ser laranja.
Agora eu tô vendo vermelho!
Daqui a pouco vai falar que é verde com listras azuis! – ele gargalhou, me abraçou e fez eu me derreter ainda mais.
É, eu devo tá meio daltônica. – respondi resignada de que nunca conseguiria descobrir a cor daquele estranho objeto, ainda dentro do abraço.

Ele sorriu e cochichou pro amigo do lado “ela deve tá excitada, daltônica num é isso?”. Eu enterrei o rosto no peito dele e não sabia se chorava ou se caía na gargalhada. Depois de um tempo (e ainda na praia), quando o dia amanheceu eu disse que tinha que ir pra casa.

Eu te levo!
Não precisa, obrigada.
Eu insisto! Me dá o seu telefone também.
Faz o seguinte: joga daltonismo no Google e quando você achar a resposta me liga, ok?

Ele me olhava sem entender enquanto eu dava as costas e ia pra casa rindo de mim mesma e da situação. Acho que eu devia estar daltônica mesmo. Nos dois sentidos. Bem, pelo menos a noite foi muito bem aproveitada. Mas era burro como uma porta.

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