segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Portas batidas

Quer ir, vá. Eu não vou te segurar.
Vá, mas deixe tudo o que é meu.
Devolva o Doyle, os Machados e Prousts.
Sabe aquele site incrível? Ele é meu, nunca foi seu.
Quero de volta todos os cds, você nunca gostou mesmo de Rock.
Cadê aquela camisa dos Rolling Stones?
Você nunca se sentiu à vontade com Chico ou Caetano.
Por que agora vive cantarolando Los Hermanos?
Vai, mas deixa tudo o que é meu.
Não quero mais que você veja Almodóvar, não quero ouvir críticas aos Cohen ou palmas para Eastwood.
A verdade é que você nunca soube apreciá-los.
Esquece, deixa pra lá.
Deixa por aqui. Por aqui ou por lá.
E deixa esse moleskine também. Agora você escreve?
Agora você entende de arte? Tá tentando ser uma pessoa melhor?
Vai, mas deixa tudo o que é meu.
Arranca fora esse sorriso, porque ele também não é teu.
Veste a carapuça do mau humor, esse sim foi feito pra você.
E aqueles péssimos hábitos? Estranho pensar que o que antes me fazia rir, hoje me enoja.
Estranho nada, pensando bem é até normal. Ou seria banal?
Vamos, quero de volta todas as manhãs acinzentadas e noites estreladas!
Guardei o pôr-do-sol numa caixinha e te dei, agora todos os meus dias são nublados.
E o que ganhei com isso?
Pode sair por essa porta, mas deixa em cima da mesa todos os sorrisos que eu te dei.
Todos os abraços, todos os beijos.
Sabe aquelas conversas, as palavras de apoio, as declarações?
Coloca tudo numa bandeja que mais tarde eu recolho.
Eu quero o que é meu, nada disso é teu.
É tudo meu, faz parte do meu eu e eu não quero nada meu que também seja teu.
Deixa tudo e vai, bate a porta e joga fora as chaves,
porque no meu teto você não dorme, no meu chão você não voa, na minha vida você não está.
Pelo menos não mais.




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